Ivo Crifar
As palavras são minhas companheiras no caminho
Textos
A Suposta Arte da Comunicação
Certa vez, um amigo pegou, pela primeira vez,  um texto meu para ler e começou a rir. Por não ter nada de engraçado, quis saber o motivo do riso.
"Você escreve como você fala", respondeu, ele, sem tirar os olhos do texto.
Só, então, atentei para o caso. As pessoas normalmente falam de um jeito(informal) e escrevem de outro(formal).  Eu não acho que a comunicação seja uma arte, mas uma necessidade humana. O homem precisa comunicar-se, seja para socializar-se, seja para sobreviver. Tudo depende de uma boa comunicação.
Quando se fala em comunicação, logo se pensa na língua. Porém, escrita ou falada, ela não é o único mecanismo da comunicação. Há sempre um gesto, um olhar, um sinal, enfim, sempre encontramos um modo de comunicar  o que queremos. Se somos hábeis emitir uma mensagem, seja qual for o modo, devemos ser capazes de ler e interpretar as expressões alheias. E assim nos comunicamos de todas as maneiras. Neste contexto, creio não estar sozinho, a língua é a forma mais perfeita de comunicação. A língua é a identidade de uma nação, tão importante quanto a própria moeda. Ela mantém a unidade de um país.
Sou filho de uma professora. Minha mãe era professora leiga em uma escola de interior e dava aula para várias turmas simultaneamente, da alfabetização à quarta série do primário, no mesmo ambiente. Ela ajudou formar muitos médicos, advogados e professores com a sua arte de ensinar. Cresci em uma sala de aula, ouvindo estórias, cercado de livros. Nasci dez anos depois da chegada da televisão no Brasil, mas só tive contato com um aparelho de TV aos dez  anos de idade. Passei a minha infância entretido nas brincadeiras durante o dia e ouvindo histórias, na hora de dormir.
Rigorosa, no aprendizado de seus alunos, minha foi minha foi minha professora da alfabetização até à segunda série primária, e zelava pelo português correto, afinal, éramos filhos da professora Marieta. Morávamos em uma cidade do interior, as pessoas se comunicavam bem, mas falavam errado. Contudo, isso nunca causou qualquer dificuldade para o nosso modo de falar. Eu e meus irmãos sempre fomos taxados de falar português difícil. No entanto, para nós, nunca foi difícil falar o português correto. Herdeiras deste bom hábito, minhas filhas até estranham quando eu falo alguma gíria e me corrigem. Faço parte de uma família que não gosta de desafinar no português.
A comunicação não é uma arte, mas arte é uma forma de comunicação, da qual depende, inclusive a nossa saúde física e, principalmente, a emocional. É através da linguagem corporal, expressões faciais, gestos e até com o nosso silêncio, que podemos ser "lidos" pelos outros. Outro amigo me disse que quando deitamos os nossos sentimentos no papel, conseguimos ser mais verdadeiros. E ele tem toda razão. Ao escrevermos, temos a chance de refletir e voltar atrás, o que não acontece no falar. "Quem fala o quer ouve o que não quer", diz o dito popular. Nem sempre quem fala e escreve bem consegue se comunicar bem. Para comunicar-se bem é preciso vencer, por exemplo, a timidez, obstáculo, pelo qual luto ainda luto até hoje.
Sim, eu escrevo como falo. Assim, sigo o meu constante desafio da comunicação, policiando meus gestos, para que as pessoas tenham de mim uma boa leitura e, é claro, zelando sempre pelo bom português.
Comunicar-se bem é preciso. Desafinar na língua, não é preciso.
Ivo Crifar
Enviado por Ivo Crifar em 05/01/2025
Alterado em 01/04/2025
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